O discófilo já se acostumou a entender como
armorial a música típica nordestina. A palavra é antiga, mas Ariano Suassuna
deu a ela uma significação mais ampla e mais humana. Entenda-se como tal a
música autenticamente popular – no caso a folclórica – e aquela de compositor
com algum preparo técnico escrevendo música que segue de perto, de muito perto
as constâncias mais fiéis às fontes populares. Mas aqui cabe indagar: a música
armorial há de ser unicamente nordestina? Parece-me que não.
É interessante verificar que todos os que leram sobre e ouviram música armorial nordestina, concordam que a de Renato Andrade é a versão mineira da mesma. Apenas ignoram, com razão, que era composta e apresentada antes de haver sido iniciado o movimento de música armorial do Nordeste. É que faltou ao mineiro a oportunidade de sair de sua cidadezinha de Abaeté para vir divulgá-la nos grandes centros artísticos. E agora, eis a música armorial mineira em mãos de quem conseguiu elevar a viola – viola caipira, de-feira, de arame – a um nível jamais imaginado.
Tudo com técnica própria de pontear, e não a mera
adaptação do ponteado do violão, como tem sucedido sempre que um violonista
executa viola. É que o artista residia em Belo Horizonte, estudara violino com
Fausino Vale e ao retornar a Abaeté, não tendo com quem estudar violino e nem
para quem tocar, descobriu as possibilidades que a viola oferecia ao seu
talento criador.
Por isso, não é em vão que o artista tem ilustrado palestras de estudiosos; não é em vão que suas atuações – inclusive com patrocínio oficial têm sido bem recebidas nos meios artísticos mais diversos; e não é em vão que suas apresentações têm sido, a um tempo, o sentido do concerto, de informação didática e, se quiserem, de show do melhor conceito, com a sua viola, sua conversa inteligente com o público e sua mineiríssima tradição popular. Apesar do meu respeito e imensa admiração pelos violeiros nordestinos, já vi, num ambiente totalmente nordestinizante, Renato Andrade roubar para si as atenções do público, na ocasião em que uma famosa dupla nordestina parecia estar soberana.
Que Renato Andrade prossiga nessa pisada, são os
meus votos. E que surja, amanhã, alguém que faça música igualmente armorial
paulista, gaúcha, amazonense, carioca ou o que for. Para que mereçam, como
Renato, uma obra musical de Francisco Mignone, como a que o compositor escreveu
especialmente para ele.
Cabe um elogio ao violonista “Tupi”, que acompanha
Renato Andrade. O violão se mantém plenamente agradável na sua discrição, que
permite ao violeiro executar à vontade suas obras.
Um conjunto excelente.
Guerra
- Peixe
Outubro
de 1977
Discografia >>> Download
[1977] A Fantástica Viola de Renato Andrade
[1979] Viola de Queluz
[1983] Concerto Para Amigos
[1984] O Violeiro e o Grande Sertão
[1985] Raízes
[1987] A Magia da Viola
[1993] Instrumental no CCBB
[1998] Violeiros do Brasil
[1999] A Viola e Minha Gente
[2002] Enfia a Viola no Saco
[2004] Os Bambas da Viola
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