Natural de Aporá, sertão da Bahia, Vidal França
iniciou-se musicalmente em 1972, já em São Paulo, quando fazia parte de um trio
vocal, ganhando o primeiro lugar num programa de calouros. Seguiram-se alguns
anos de plena atividade em teatros, ou com apresentações em casas noturnas,
sempre tendo ao lado seu companheiro Fernando Lona, interpretando músicas de
Gilberto Gil, Geraldo Vandré, Chico, Caetano, Luiz Gonzaga e outros.
Com a morte do amigo Lona, em 77, descobriu uma nova ideologia, passando para uma nova fase, na qual foram muito importantes suas viagens para Angola, Moçambique, Canadá e Estados Unidos, onde mostrou suas canções e procurou assimilar a música de raízes daqueles países.
De volta ao Brasil, procurou nas raízes da MPB o
caminho ideal. E, para não se tornar repetitivo, eliminou de imediato suas
tendências anteriores, tomando o cuidado de não focalizar a miséria e a pobreza
de sua região, pois assim seria muito fácil, em vista do óbvio dessas
características.
Dessa forma, procurou transmitir em sua música os
valores culturais do sertão baiano, e em alguns casos, também a pobreza; porém
aquela pobreza decorrente da exploração de outros, como é o caso do Vale do
Jequitinhonha, onde ainda existe riqueza, mas os beneficiados são os intermediários
que ganham com a comercialização do ouro, como ele mesmo afirma: “A música Vale do Jequitinhonha surgiu quando vi
os barranqueiros sofrendo por falta de poder aquisitivo, vivendo em total
subdesenvolvimento apesar do ouro. O problema é que, quando encontram uma
pepita, sempre existe o atravessador que, aproveitando-se da ignorância dos
barranqueiros, leva as pedras por preços mínimos, e geralmente, esse ouro vai
para o Exterior. Portanto, a minha música é também um alerta para as
autoridades, que deveriam tomar providências e legalizar a situação do Vale.”
Antes de lançar o seu primeiro disco (um compacto
simples, com a música Vale do
Jequitinhonha), Vidal França tornou-se conhecido entre os adeptos da música
regional do agreste depois de Diana Pequeno ter gravado Facho de Fogo, de sua autoria, e que serviu para abrir as portas
para o cada vez mais limitado mercado discográfico. A situação, agora, deverá
melhor para Vidal, caso a Polygram cumpra a promessa de lançar um LP,
inicialmente prometido para 81.
Para Vidal, a música regional é um dos caminhos que
deve ser seguidos pelos nossos compositores e intérpretes, principalmente por
tratar-se de um gênero que divulga os valores culturais de um povo que vive
seus problemas há centenas de anos. “Somente a música poderá mostrar a condição
social do homem que vive e trabalha da terra.”
Para seu disco, está preparando uma série de
canções que, a exemplo de Vale do
Jequitinhonha, abordam problemas econômicos que refletem na condição social
do homem do sertão, como mostra nos versos da música Torre de Ouro, onde prega a igualdade econômica: “Dinheiro é
temporal / não desaba todo dia / é como chuva no sertão / que há muito não se
via / nessa transição / poder desgovernado / é herói da discussão / desse povo
inconformado / Vem vê, a briga começou / dá cá o teu / que é o meu / dá lá o
meu / que não é o teu.”
Atualmente, Vidal França está trabalhando em
parceria com João Bá, compositor que veio da caatinga. A seu lado, pretende
mostrar o aspecto regional e folclórico da música do sertão, ampliando a
informação daqueles que estão distantes desta outra realidade cultural,
deixando de divulgar apenas a pobreza e a miséria, elementos já muitos
explorados por inúmeros cantadores e compositores, e que já se transformaram em
atrações turísticas da região norte-nordeste.
Angelo
Lacocca
Revista
Música, 1981
Discografia
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[1980] Vidal França (Indisponível)
[1985] Fazenda
[1991] Cidade Bruxa
[1995] Sertão e Mar
[2002] Não é Só Forró...
[2002] Não é Só Forró...
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